Instituição de apoio a crianças abraça o veganismo inspirada por Veganuary

Katia Carvalho, fundadora da Casa do Jardim, participou do desafio Veganuary em janeiro de 2022 e implementa transição a uma alimentação à base de plantas para crianças de 5 a 16 anos

Visita da Casa do Jardim ao Santuário Vale da Rainha / Crédito da foto: Casa do Jardim

Em 2001, enquanto dava aula particular na casa de um aluno, a professora de inglês, Katia Carvalho, avistou pela janela crianças recolhendo restos do lixo reciclável, e no ímpeto de ajudar, saiu para conversar com elas. Encontrou duas crianças ao lado dos pais, recuperando do lixo o que podiam, já que aquela era a única fonte de renda da família. Sem esperar ficar mais “preparada” ou ganhar na loteria para ajudar uma família em situação de vulnerabilidade, Katia mobilizou amigos e vizinhos para conseguir doações de roupa e alimentos para a família.

Essa foi a semente do que em 2008 viria a ser a Casa do Jardim, uma instituição baseada em Santo André, no ABC Paulista, que oferece suporte e cuidado gratuitamente a crianças e adolescentes entre 5 e 16 anos que sem ter para onde ir depois do colégio, encontram no espaço um lugar protegido para estar enquanto seus pais estão trabalhando. Em vez de ficar sozinhas em casa, na Casa do Jardim, socializam com outras crianças e comem o que muitas vezes é a única refeição de qualidade a que têm acesso no dia.

Hoje, a instituição sobrevive de doações tanto para pagar o aluguel quanto para prover os insumos para o almoço e o lanche da tarde, além de materiais para atividades como yoga, meditação, rodas de leitura e reforço de português e matemática. Durante a pandemia, no entanto, as atividades tiveram que diminuir o ritmo. A Casa do Jardim deixou de receber as crianças pela tarde e manteve apenas as doações de alimentos, pilar básico do bem-estar dos pequenos.

Em outubro do ano passado, a organização reabriu para voltar a receber as crianças como fazia antes da pandemia, 4 vezes por semana. Mas algo importante mudou. A partir do fim de 2021, a alimentação na Casa do Jardim passou a ser vegetariana, um chamado que Katia, vegetariana desde pequena, escutou no coração. “Implementamos um pilar de universalismo e respeito por todos os seres na face da terra, e o vegetarianismo faz parte disso. Também reforçamos a yoga e a meditação”, conta Katia, lembrando que desde sempre a instituição funciona sobre os cinco valores de Sai Baba: verdade, retidão, paz, amor e não violência. 

Tais valores têm forte conexão com os valores do veganismo, estilo de vida que Katia conheceu apenas em janeiro deste ano, ao dar de cara com Veganuary nas redes sociais. Ela participou do desafio vegano de um mês proposto pela organização internacional de apoio e incentivo a uma alimentação a base de plantas, e se apaixonou pela iniciativa. “Conheci Veganuary pelo Instagram, achei incrível, me cadastrei e fiz. Eu gosto muito de leite, mas mesmo assim segui as dicas e hoje a minha alimentação é totalmente vegana”, diz.

Ao adotar o veganismo como estilo de vida, Katia sentiu vontade de compartilhar os benefícios de sua nova alimentação, sem produtos de origem animal, às quase 80 crianças atendidas na Casa do Jardim às segundas, quartas, sextas e sábados. Para colocar a ideia em prática, Katia fez questão de preparar tudo com responsabilidade e cuidado. Primeiro, contratou uma chef vegana para cozinhar para as crianças, e conseguiu nutricionistas voluntários de uma parceria com a faculdade São Judas para realizar o seguimento dos pequenos. 

Crianças e adolescentes em visita ao Santuário Vale da Rainha / Crédito da foto: Casa do Jardim

Assim, implementou uma alimentação vegana nas duas refeições servidas por dia no instituto, o almoço e o lanche da tarde. Graças a uma parceria com o supermercado Sonda, recebem doações de frutas e verduras que viram deliciosas refeições. Como as contas da Casa do Jardim são pagas integralmente com doações, ainda não foi possível tornar o ambiente 100% vegano por conta do leite vegetal – são consumidos 12 litros de leite por dia –, que no Brasil custa muito mais caro do que o leite de origem animal. Mas essa mudança já se desenha no horizonte, através de parcerias com marcas veganas como Mr Veggy e Superbom. Também há uma conversa com a NotCo, que deve se incorporar como apoiadora do projeto nos próximos meses. 

“Eu trabalho muito a liberdade, sempre falo para as crianças que na Casa do Jardim elas estão vegetarianas em transiçao para veganas, lá fora é a consciência delas, o que elas acharem importante comer”, conta Katia. Entre os quitutes preferidos das crianças está o brigadeiro de chuchu, que fez um tremendo sucesso entre os pequenos. “A Sofia sempre diz que está comendo sem ferir nenhum animalzinho. Para as crianças menores a aceitação é muito mais fácil.”

Katia fica apreensiva sobre possíveis críticas que possa receber em relação à escolha de proporcionar uma alimentação vegana para as crianças, pois sabe que tudo o que é novo pode causar estranheza a princípio. Mas está tranquila e confiante no processo, que inclui não somente o acompanhamento nutricional, como também acompanhamento médico, onde cada uma das crianças realiza exames de sangue periodicamente.

Felizes e bem alimentadas, as crianças e os adolescentes atendidos hoje pela Casa do Jardim têm aulas de violão, yoga, meditação e de tempos em tempos, visitam projetos como o Santuário Vale da Rainha, no sul de Minas Gerais, para onde foram em um fim de semana no meio de julho estreitar o contato com a natureza e com os animais. As mais de 400 crianças que estão na lista de espera por uma vaga na Casa do Jardim esperam por uma oportunidade de vivenciar e aprender mais sobre o respeito ao planeta e todas as suas formas de vida.

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Veganuary é o maior movimento pelo veganismo no mundo, inspirando pessoas a experimentar o veganismo em janeiro e pelo resto do ano

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