Pais veganos e a educação alimentar de seus filhos

Mães e pais veganos tomam os cuidados necessários para garantir uma nutrição balanceada aos seus filhos, mesmo sem o leite..

Ainda hoje, quando se fala em alimentação vegana, o mais comum é achar que “vão faltar proteínas na alimentação”. Muitas pessoas, inclusive profissionais de saúde acreditam que apenas as carnes são fontes seguras de proteína. E isso não é verdade! Vegetais também tem proteínas! A diferença está na concentração e forma de distribuição delas.

Outro mito frequente é as pessoas acharem que todo vegetariano terá anemia por não estar consumindo o ferro da carne. Porém o reino vegetal é rico em ferro, basta incluir boas fontes no cardápio.

E não poderia deixar de citar o mito clássico de que “vão faltar vitaminas”. Os alimentos vegetais são extremamente ricos em vitaminas, com maior diversidade, inclusive, do que nos produtos de origem animal. A única exceção é quanto à vitamina B12, que, de acordo com a Dra. Gleyce Cobra, precisará ser suplementada.

Crédito da imagem: arquivo pessoal da Dra. Gleyce Cobra

A doutora Gleyce é pediatra e faz parte do quadro de médicos da clínica Vida Vegana, auxiliando famílias na educação alimentar vegana de todos os seus componentes, incluindo bebês e crianças.

“Bebês veganos precisam de acompanhamento de rotina, como qualquer outro bebê. Deve-se priorizar o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida”, afirma ela, lembrando que nessa fase é importante avaliar a lactante vegana, pois os níveis de algumas vitaminas no leite materno, são diretamente proporcionais aos níveis no corpo da mãe.

Por exemplo, se a mãe está com nível adequado de vitamina B12 no sangue, os níveis de B12 no leite materno estarão adequados e a oferta para o bebê se mantém segura. No entanto, se a mãe estiver com deficiência, ela deve ser corrigida e o bebê deverá iniciar uma suplementação.

combinando nutrientes 

Na introdução alimentar é importante fazer a adequação de proporções dos grupos alimentares. Nas refeições principais, de forma prática, 2/3 do pratinho deve ser composto por cereais e leguminosas. A famosa combinação de arroz com feijão.

O outro 1/3 composto de vegetais e legumes. Finalizar o prato com boas fontes de gordura (azeite, óleo de chia ou linhaça) melhora a composição nutricional. De acordo com a clínica Vida Vegana, a fase de introdução alimentar é o momento em que se inicia a suplementação oral de vitamina B12 para todos os bebês.

Afinal, não tem segredo, as famílias que seguem as orientações corretamente, possibilitam que os bebês cresçam e se desenvolvam normalmente.

Implementar uma dieta vegana em crianças 

Implementar uma alimentação vegana é mais simples do que parece. A carne não precisa ser substituída por outro alimento. Se pensarmos num prato onívoro que contém arroz, feijão, carne, 2 tipos de legumes e 1 verdura, basta tirar a carne. Ela não precisa de substituto.

Porém, é preciso ajustar as proporções dos outros grupos alimentares, conforme a faixa etária. O grupo das leguminosas, que são todos os feijões, grão de bico, ervilha e soja, são os alimentos com maior quantidade de proteínas na alimentação vegetariana. A quantidade necessária por dia é alcançada com facilidade.

Uma dica é fazer hambúrgueres ou almondegas de leguminosas, nessa fase de transição. Pois assim se mantém a forma de apresentação da comida “lúdica”.

dieta sem laticínios para bebês e crianças 

Além de não haver riscos em uma alimentação vegana para bebês e crianças, há muitos ganhos especialmente na exclusão de laticínios do cardápio infantil.

Em primeiro lugar, não haverá o risco de alergia à proteína do leite de vaca até os 2 anos de idade. E conforme a criança vai crescendo, também se reduz o risco de intolerância à lactose. A dra. Gleyce é categórica ao afirmar que crianças que retiram o leite e derivados da alimentação mostram melhora de quadros inflamatórios ou alérgicos, como rinite, asma, eczema, dentre outros. “Leites e derivados tem altos índices de gordura. Com sua exclusão, reduzimos também as chances de hipercolesterolemia e obesidade na infância.”

Faixa-etária 

As crianças tem necessidades específicas para cada faixa etária e fase da vida. É importante manter o acompanhamento médico regular, os ajustes de proporções alimentares para a idade e manter a suplementação de vitaminas conforme as necessidades individuais.

A chave para o sucesso em criar uma criança vegana é que a família tenha informações confiáveis, compreensão sobre o assunto e comprometimento com sua decisão.

Camila Goldman sabe bem disso. Mãe de três, ela faz questão de que os filhos, com 9, 16 e 18 anos, saibam o que estão comendo. Uma maneira lúdica de conscientizar a prole é colocar todo mundo na cozinha. “Aqui em casa nosso lema é: se você come, você cozinha”, conta.

Crédito da imagem: Arquivo pessoal de Camila Goldman

Vegana há quase uma década, Camila inspira os filhos nas jornadas de cozinha em família e na preparação dos lanches que levam para a escola. Os três montam inclusive uma marmitinha quando vão a festas de aniversário dos coleguinhas. “Levamos todos os quitutes de festa na versão vegana. Inclusive faço festas de aniversário veganas e são sempre um sucesso – isso ajuda na aceitação dos amigos e familiares. Agora nossos familiares sempre tem uma opção alimentar pensada em nós”, diz.

Respeitando as individualidades 

Na casa da família Schelenger, a revolução vegana partiu do pai, Leandro, quando o filho tinha apenas cinco anos de idade. Um dia, ele comia carne, no outro, decidiu abandonar todos os produtos de origem animal, e foi comunicar sua decisão para a esposa e o filho. “Notei que no fim daquele mês eles pararam de consumir carne animal mesmo quando estavam sozinhos. Fizemos a compra no mercado e não compramos nada de origem animal, foi um orgulho”, celebra.

Crédito da imagem: Arquivo pessoal de Leandro Schelenger

Depois disso, levou a família toda ao nutricionista para serem acompanhados durante a mudança de estilo de vida. Leandro avisou a escola e também os pais dos coleguinhas do filho que ele prefere não comer carne. “Às vezes ele conta que comeu algo com carne e derivados, mas tudo bem, sei que tem consciência da sua alimentação e isso é muito importante nessa fase, agora ele respeita a alimentação que fazemos em casa.”

Hoje, a família está em fase de adoção do segundo filho e se prepara para a adaptação de costumes. A apresentação do veganismo ao novo membro será aos poucos. “Para adaptar o paladar da criança, tento preparar os pratos veganos de forma mais familiar. Não vou dar beringela refogada sem sal, né!?”, se diverte. “Ofereço um nuggets de grão de bico e molho, um brócolis crocante do Huck e por aí vai.”

Pai vegano solo 

Depois de trabalhar por anos como chef de cozinha especializado em carne e defumações, Hendrik Pereira optou por deixar de consumir produtos de origem animal. Pai de trigêmeas e padrasto de um menino de cinco anos de idade, fruto do casamento anterior de sua esposa, ele é o único vegano da casa.

Crédito da imagem: Arquivo pessoal de Hendrick Pereira

Hendrik considera que a jornada da paternidade é similar à do veganismo, pois ambas são baseadas no amor. E também no respeito às individualidades de cada ser. Por isso, com calma, apresenta um modo de vida novo para a mulher os filhos.

“Converso com o meu enteado de forma lúdica, explicando de onde vem a carne, e ele já começa a ter curiosidade sobre o veganismo. Se você colocar uma maçã e um pintinho na frente de uma criança, o que ele vai comer e com o que ele vai brincar?”, reflete.

As trigêmeas, por sua vez, já foram introduzidas à alimentação sólida com frutas e verduras. “Nosso objetivo é manter a alimentação delas à base de vegetais, a ideia é de que elas cresçam veganas.”

De acordo com a dra. Gleyce, famílias em que um dos pais é vegano e o outro não é uma situação bem frequente. Muitas vezes o familiar não vegano tem insegurança quanto a esse padrão alimentar na infância. Por isso, o papel do pediatra é dar suporte técnico quanto as garantias desse tipo de alimentação, inclusive das vantagens dela.

Pois há menor consumo de colesterol, gorduras saturadas e gorduras trans, maior ingestão de fibras e fitoquímicos. O que repercute a médio e longo prazo com melhor qualidade de saúde pra criança. “Com o acompanhamento especializado, o familiar não vegano fica mais tranquilo e concorde em seguir por esse caminho”, afirma a pediatra.

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