Questionário vegano com Hugo Bonemer

Aquelas perguntas que você sempre quis fazer a um vegano, respondidas por veganos ilustres. Seguimos esta série com uma entrevista bem legal com Hugo Bonemer, que é ator, vegano e apoiador Veganuary

Crédito da imagem: Arquivo pessoal de Hugo Bonemer

O que você faz da vida (profissionalmente e também outras atividades que realiza no seu tempo livre)

sou artista como profissão, no tempo livre gosto de me exercitar com caminhada, ioga e exercício funcional.

Como você descreveria sua alimentação atualmente? Nos dê um exemplo de uma refeição típica no seu dia.

De manhã, tomo uma vitamina de frutas com proteína isolada quando tenho pressa, tenho gostado também do tofu mexido com açafrão, tomate, e sal negro – descobri recentemente e virou meu queridinho.

Qual é a sua principal motivação para seguir uma alimentação baseada em vegetais?

A primeira motivação foi ambiental, que me fez aderir ao segunda sem carne e reduzir bastante de dez anos pra cá. Depois, ao ingressar no quadro Show dos Famosos no Domingão do Faustão, não queria estar inflamado para cantar. Todo cantor sabe que leite e alergias respiratórias estão associadas, então a decisão veio definitivamente por motivos profissionais. Por ultimo me despertou a empatia pelos animais. Sinto que passei por um processo gradativo de humanização. 

Quando você começou com esse estilo de vida, qual foi o principal obstáculo que enfrentou?

O principal obstáculo era a dificuldade de encontrar produtos industrializados acessíveis, o que mudou muito de cinco anos pra cá. Hoje compro manteiga a um preço equivalente à de vaca, e consigo pasta de castanha pra fazer leite a um preço também equivalente.

Que conselho você daria para alguém que está começando sua jornada vegana?

Se a questão ambiental, a saúde ou a empatia com animais te pega, experimenta reduzir. Se você tem dificuldade com vegetais por questão de hábitos, experiementa receitas em que eles são associados a grãos. Por exemplo, incluir brócolis no arroz, fazer a carne de soja com vagem e cenoura, incluir folhas na tapioca. 

Que mudanças positivas você experimentou na sua saúde desde que começou essa dieta?

O cabelo cresceu muito rápido, a pele ficou mais firme, pela preocupação, acabo ingerindo mais proteínas que antes e minha testosterona aumentou.

Qual é o seu prato vegano preferido? Por quê?

Comi um ceviche de cajú uma vez e nunca esqueci… a frita fatiada como peixe branco marinada em limão, cebola, coentro e alga nori criava toda a experiencia afetiva do prato mas sem a crueldade animal.

Um restaurante vegano que você ama?

Eu peço muito no Veg+, no AmendolaVeg, Vegane e Popvegan pelo app.

Crédito da imagem: Arquivo pessoal de Hugo Bonemer

Vamos filosofar? Como você enxerga o impacto do veganismo no mundo? Imagina que o mundo todo poderia ser vegano um dia?

Da mesma forma que há dez anos não imaginávamos ter smartfones acessíveis pra toda a população, acredito que nos próximos dez anos iremos passar por uma enorme transformação alimentar. A entrada da carne cultivada no mercado vai possibilitar o consumo de carne animal, produzida em biorreatores, sem usar animais. Num primeiro momento a preços inacessíveis, com sabor questionável e gradativamente irá melhorar, gerar concorrência e ganhar o mercado. Paralelamente, as alternativas vegetais conquistarão o mercado: já as vemos de forma exclusivamente vegetal, mas em breve vamos acompanhar a “carne híbrida” que vai prometer “o sabor da carne animal com mais saúde pra você”, ainda com crueldade, e por último e finalmente, de forma híbrida, mas usando carne cultivada.

A pecuária terá que investir em biorreatores para continuar a ganhar dinheiro, os governos terão que ajudar os grandes players a fazer essa transição, e os pequenos produtores de produtos veganos que não crescerem nos próximos cinco anos serão englobados ou aniquilados por quem já detém o capital. Não estou contando nenhuma novidade, o mercado funciona assim. Porém ao contrario do que dizem os que reinventaram o “velho oeste” o mercado não regula tudo. É absolutamente necessário que o Estado seja presente, e os deputados legislem pela proibição da crueldade animal, forçando o mercado a caminhar nesta direção. Vai acontecer e estaremos vivos pra ver. Acredito que tempos em tempos discutimos se determinadas vidas importam, e essa será uma discussão cada vez mais recorrente. Um outro ponto importante de se esmiuçar, é o fato da carne ser um símbolo consolidado de status e prosperidade social.

Essa realidade nos faz esbarrar num aspecto moral básico: o de que todo mundo tem direito à ascenção social. Os acordos morais da sociedade mudam e uma forma eficiente de ajudar nesta mudança é criando novos símbolos de status. Seguindo esse fio, penso que é igualmente importante falar sobre veganismo acessivel e veganismo gourmetizado: o primeiro prova que é possível e mais saudavel viver à base de vegetais, e o segundo nos apresenta novos objetos de desejo – e não os trate como superficiais, os símbolos de status falam de pertencimento, sucesso e principalmente de afeto: penso que chegaremos em breve no momento em que a picanha feita com carne cultivada, produzida com mais ou menos gordura e com mais ou menos altura, será mais cobiçada e desejada do que uma picanha bovina cheia de crueldade animal. 

Em tempo, penso que estamos falando da falência de um sistema de poder sobre os animais e do especismo, que é a opressão baseada em superioridade: o vegano que acha que evoluiu em relação aos demais, e que é melhor que os outros não entendeu direito do que se trata o veganismo. Mas tudo o que está aqui é somente e tão somente a minha opinião.

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Veganuary é o maior movimento pelo veganismo no mundo, inspirando pessoas a experimentar o veganismo em janeiro e pelo resto do ano

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