Os desafios das mães veganas 

Mães veganas e especialistas refletem sobre as escolhas de mulheres e como transportá-las para dentro da maternidade – ou não 

O Dia das Mães é uma data especial em que celebramos o amor e a dedicação das mães por seus filhos. Mas ser uma mãe vegana pode trazer desafios únicos que muitas pessoas podem não entender. Uma mãe vegana pode enfrentar o desafio de educar seus filhos sobre os valores éticos e ambientais que motivam sua escolha de estilo de vida. Ela pode ter que lidar com críticas e incompreensões da sociedade em geral e até mesmo de membros de sua própria família.  

Mas, apesar desses desafios, a mãe vegana também pode encontrar muitas alegrias e recompensas em sua escolha de criar seus filhos dessa maneira. Ela pode ensinar seus filhos sobre a importância de respeitar todos os seres vivos e de cuidar do meio ambiente, como escolheu fazer a empresária Mônica Buava, sócia do Pop Vegan, um dos restaurantes veganos mais badalados de São Paulo.  

Crédito: Reprodução do Instagram de Mônica Buava

Vegana há 20 anos e mãe há 7, se orgulha de passar os valores veganos para a filha. “Na nossa família, está fora de cogitação pensar em animais na mesa. É um valor inegociável, assim como outros valores de respeito ao próximo.” E de mostrar que uma dieta vegana pode ser saborosa, nutritiva e variada, com muitas opções deliciosas para escolher. A pequena Marina tem um repertório alimentar mais amplo do que a maioria das crianças, com tofu, suco verde e outras maravilhas da culinária plant-based. 

A alimentação das crianças é sempre desafiadora, e com o veganismo não é diferente. Se a criança sente vontade de comer algo que viu o amiguinho comer, a dica é buscar a sua versão vegana. Para as crianças que comem à base de plantas desde a introdução alimentar, certamente será mais fácil se apegar aos sabores conhecidos de frutas e legumes antes dos sabores que imitam carne, leite e ovos ou dos industrializados.  

“Desde a introdução alimentar da minha filha, a comida foi sempre vegana, exatamente a mesma dos adultos da casa, a única diferença foi que até ela completar 1 ano, a gente cozinhava tudo sem sal e depois agregava sal aos pratos dos adultos, depois disso, comemos todos absolutamente igual”, conta Carol Destro, ativista do canal Carol Vida Vegan, que deu à luz há 1 ano e dois meses. 

Carol conta que sentiu vontade de consumir produtos de origem animal durante a gestação, algo absolutamente normal para mulheres e mães veganas, e que ela contornou buscando consumir alimentos ricos em proteína, que era provavelmente o que o corpo dela estava pedindo. “Talvez fosse até uma questão emocional, de conforto, de saudade da família, já que alimentação não tem a ver apenas com encher a barriga.” 

Sem enfrentar grandes questões com a maternidade vegana, e tudo fluindo bastante bem  – pelo menos até agora –, Carol ensina um truque que aprendeu quando a família sai de passeio ou come fora: preparar cubinhos congelados de vegetais cozidos naquelas forminhas de gelo, que ela consegue descongelar facilmente e alimentar a pequena com rapidez e praticidade. 

Crédito: Reprodução do Instagram de Carol Destro

Nem todas as mães veganas… 

Por outro lado, é importante lembrar que o veganismo não se trata de julgamento mas sim de acolhimento, e isso quer dizer que as diversas fases de transição da alimentação são aceitas e apoiadas pela comunidade. Assim, as mães, que já se acostumaram a sentir culpa por tudo não precisam encarar a questão da maternidade vegana de novo, com culpa.  

Existem muitas mães veganas que por um motivo não aplica as regras da alimentação apenas à base de plantas a seus filhos. Por exemplo, quando o pai da criança não compartilha da filosofia vegana, o mais importante é não criar conflitos, e sim conversar, conversar e conversar. Assim, será mais fácil encontrar pontos de convergência e encontro, onde tanto a mãe quanto o pai estejam de acordo no estabelecimento de alguns critérios. 

Como diria a nossa avó, o combinado não sai caro, e se tudo for conversado com respeito e empatia, alguns combinados podem surgir para facilitar a vida da família, como por exemplo, a restrição de produtos de origem animal em casa ou que os pratos preparados pela mãe sejam sempre de origem vegetal enquanto o pai tem liberdade para cozinhar o que quiser para ele e o bebê. 

Assistir documentários em família, ir à santuários também pode ajudar a família a entender os valores da mãe e, mesmo que ainda não veganos, pelo menos que sejam aliados da mulher.  

Há ainda aquelas mulheres que embora não tenham implementado uma alimentação 100% vegetal, gostariam de fazê-lo, e estudam essa possibilidade como algo cada vez mais próximo à sua realidade. Mudar a alimentação pode não ser exatamente fácil em um primeiro momento, sobretudo porque nem todos os médicos estão atualizados sobre os benefícios da alimentação vegana. Por isso é importante buscar profissionais que estudem e conheçam o tema a fundo para que novas mães veganas estejam confiantes com sua escolha.

Buscar estar próximos a famílias veganas pode ajudar a suprir a nossa necessidade de pertencimento ao mesmo tempo em que se pode aprender e compartilhar valores parecidos. Procurar por fontes de educação e informação como os recursos gratuitos de Veganuary e nosso programa de um mês vegano com apoio e suporte grátis podem ser um ótimo começo, mas é importante lembrar que não somos especialistas em nutrição infantil e que buscar aconselhamento de um profissional é sempre o mais indicado. 
 

Entrevista com especialista 

Conversamos com o pediatra Bruno Shoiti Maehara, que segue e estuda a alimentação plant-based há mais de 10 anos e é especializado no atendimento de famílias vegetarianas e veganas. Ele é pai da Irina, Isabela e Gabriela, 3 veganinhas. Confira: 

Crédito: Reprodução Instagram Bruno Shoiti

As mães veganas que acabam de adotar esse estilo de vida precisam se preocupar com o que a nível pediátrico? 

Nesse caso é importante um acompanhamento pediátrico e com nutricionista para que a dieta seja bem planejada, assim como toda dieta deve ser, inclusive para quem é onívoro. Outra questão importante é a suplementação de B12 que é essencial nesses casos. 

Os estudos com alimentação planejada (e vitamina B12 suplementada) mostram crescimento e desenvolvimento adequado das crianças vegetarianas/veganas, sem redução da velocidade de crescimento quando comparadas às onívoras. Por isso importantes órgãos e instituições de saúde já emitiram parecer favorável à esse tipo de dieta planejada na infância. Entre eles a Academia de Nutrição e Dietética Americana, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria.  

Qual é o seu ponto de vista como pediatra a respeito da nutrição vegana que as mães veganas aplicam para bebês e crianças?  

Todos os estudos que mostraram problemas em relação à adoção do vegetarianismo na infância não foram pela exclusão de carne ou laticínios, mas sim por erros alimentares na sua estruturação e que não configuram o sistema alimentar vegetariano planejado. Por isso uma dieta vegetariana saudável bem planejada e um acompanhamento pediátrico é fundamental nesses casos. A dieta vegetariana não é só possível nessa fase da vida, mas também existem diversos benefícios à saúde. Muitos estudos, por exemplo, mostram uma redução na incidência de doenças cardiovasculares no longo prazo. Essas doenças são as que mais matam as pessoas atualmente. E elas se iniciam ainda na primeira infância. Também, nos estudos, há evidência de que elas são menos obesas e comem mais fibras. Outro dado importante é que a carne processada é nível de evidência 1 para diversos tipos de cânceres. Ou seja, é o mesmo nível de certeza que o cigarro causa câncer. Portanto, ao retirar isso da dieta, também estamos prevenindo o surgimento de diversos tipos de cânceres. 

E para gestantes e lactantes? Muda algo na dieta das mães veganas nessas fases da vida? 

A gestação e amamentação são períodos particulares na vida da mulher que exigem um cuidado a mais quanto a dieta e suplementação. Nessa fase a demanda de vitamina B12, ácido fólico, ferro, cálcio e proteína aumentam, principalmente no último trimestre da gestação. Por isso é importante um acompanhamento no pré natal e, principalmente, se atentar a esses nutrientes para possível uma suplementação. É importante também a lactante suplementar vitamina B12 para que haja a passagem dessa vitamina para o leite materno.  

Quais dicas você daria a uma mãe que flerta com o veganismo mas que ainda não teve coragem de dar esse passo? 

A primeira dica é ela mesma melhorar a qualidade da sua dieta, aumentando a variedade de grupos alimentares (verduras, legumes, leguminosas, cereais, raizes, frutas e oleaginosas) antes de retirar a carne. Assim o processo de transição se torna mais saudável e simples. A criança aprende pelo exemplo. Ou seja, se os pais tiverem uma dieta vegetariana saudável e variada, é muito provável que a criança também adquira esse comportamento. Outra dica é se aventurar na cozinha. Isso ajuda muito a ampliar as possibilidades alimentares como um todo e também explorar novos alimentos. Além disso, é importante procurar ajuda profissional para realizar o ajuste na dieta e a suplementação adequada também. E outra dica é procurar conhecimento sobre o assunto em livros, documentários, cursos, etc. Mas o que eu costumo falar que a alimentação vegetariana é simples, barata, sustentável e compassiva.  

É verdade que um bebê (e uma família vegana) têm menos gripes e resfriados? 

A alimentação saudável é um pilar importante para a imunidade. É claro que nem todos os veganos se alimentam de forma saudável, principalmente se consomem muitos alimentos industrializados e processados. Mas se seguem uma dieta baseada em alimentos naturais e integrais, isso pode ajudar no sistema imunológico sim.  

PREPARADO PARA ASSUMIR O COMPROMISSO VEGANUARY?

Veganuary é o maior movimento pelo veganismo no mundo, inspirando pessoas a experimentar o veganismo em janeiro e pelo resto do ano

Mais publicações...