Questionário Vegano com: Drica Avelar

Aquelas perguntas que você sempre quis fazer a um vegano, respondidas por veganos ilustres. Continuamos esta série com Drica Avelar ou, como é mais conhecida, Drica na Cozinha, a chef vegana que mora com sua cachorra numa kombi — vivendo o sonho de todos nós –. Ah! Ela também é apoiadora de Veganuary.

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Sorrisão da chef vegana em seu habitat natural. Crédito: Arquivo pessoal

Quem é a Drica, como ela vive e o que ela faz da vida?

Eu sou chef e criadora de conteúdo para o YouTube e instagram. Vivo em uma kombihome viajando pelo Brasil com minha cachorrinha caramelo descobrindo novos sabores por uma pesquisa com povos originários (quilombolas e indígenas), tenho por meta mostrar o Brasil aos brasileiros, quantas belezas temos e nem mesmo conhecemos!

Como é cozinhar vegano dentro de uma kombi? Muito diferente de uma casa convencional?

Eu acho que o estilo de vida que mais combina com uma vida nômade é o veganismo, é muito mais fácil encontrar e cozinhar vegetais e legumes dentro de uma kombi do que ingredientes de origem animal. Já passei por diversas situações em que não pude ligar minha geladeira, cheguei a ficar mais de 40 dias sem geladeira e vejo que isso só foi possível porque os ingredientes que eu uso são todos muito acessíveis, fáceis de encontrar e não precisam de refrigeração para serem armazenados. 

Vejo pessoas que moram em uma casa fixa dizerem para mim que é difícil encontrar ingredientes veganos mas sinceramente eu que sou itinerante, estou sempre em cidades pequenas ou vilarejos não vejo essa dificuldade, isso porque eu me alimento de ingredientes integrais e na sua forma natural, eu posso encontrar bananas, abobrinhas, lentilha, feijão, arroz, tudo que preciso a cada esquina, não tenho essa dificuldade. Agora se eu for buscar por industrializados e/ou alimentos já prontos, sim, claro, teria dificuldades, mas por que eu comeria industrializados tendo uma natureza linda e abundante me oferecendo ingredientes frescos? Essa foi a virada de chave que o veganismo fez na minha vida e que eu busco trazer para as pessoas que me assistem e acompanham minha jornada pelas redes sociais.

E como você começou na cozinha e na vida vegana? As duas coisas aconteceram juntas ou uma de cada vez?

Minha primeira formação foi como Engenheira, me formei na Unicamp, como já gostava de cozinha fui na Engenharia de Alimentos. Na faculdade eu não conseguia me identificar com os processos pois era sempre sobre industrializar e eu me vejo no movimento oposto, desindustrializar! Por isso depois da faculdade não trabalhei na área de alimentos, fui para Engenharia Civil, onde consegui me encaixar por um tempo. Mas o desejo de cozinhar e de viver minha verdade gritava dentro do meu peito então eu juntei toda a grana que eu podia como Engenheira e fui viver o meu sonho. 

Uma vez eu ouvi uma frase que me tocou de uma forma especial “põe o pé, que Deus põe o degrau” é exatamente assim aconteceu, eu coloquei o pé, coloquei a intenção e consegui uma bolsa integral para cursar Le Cordon Bleu na Austrália, nessa época eu ainda não era vegana, cursei a melhor escola de gastronomia do mundo. Isso foi em 2013. Trabalhei como chef por 4 anos mas ainda me sentia perdida, sentia que faltava algo que me conectava verdadeiramente com meu trabalho. Então em 2017 eu fui convidada a fazer a cozinha de um retiro vegano e ali, naquele retiro uma chave virou na minha cabeça. Quando acabou o retiro eu assisti What The Health e pronto, a chave que tinha começado a virar fez a volta completa e eu me tornei vegana no dia seguinte.

Desde então meu trabalho tem propósito, cheiro, gosto, amor e eu hoje me sinto conectada com a minha missão nessa vida.

Lindezas demais viajando pelo Brasil. Crédito: Arquivo pessoal

Qual você considera o maior desafio para que o veganismo se popularize hoje entre a população brasileira?

O maior desafio ao meu modo de ver é a indústria. Vivemos em uma sociedade viciada em industrializados, quando olhamos os carrinhos dos supermercados raramente vemos alimentos em sua forma natural, para as pessoas é mais fácil desembalar uma pizza pronta e aquecer no forno do que descascar uma manga! As pessoas buscam por facilidade e praticidade porém não enxergam o quão prática e fácil é a cozinha vegetal! 

E essa é a base do meu trabalho, o que me move é mostrar às pessoas que uma abobrinha pode ser sua alimentação por 10 dias seguidos sem repetir o menu! A versatilidade de preparo dos vegetais é muito rica, mas enquanto a gente não se abrir para o natural, para o integral, a gente vai sempre estar na mão da indústria.

Sabe, me deixa muito curiosa um ingrediente específico que  a indústria não pode descartar na natureza por ser um poluente tóxico, que é o soro do leite, então  o que a indústria faz? Descarta o soro de leite em pequenas doses na forma de pó em diversos produtos que nem deveriam levar leite, assim ela descarta no corpo humano? E o que mais está sendo descartado no corpo humano? Quais outros químicos ela está despejando nos nossos corpos sem que nós sejamos devidamente informados?

Quais os ingredientes estrela da sua cozinha? 

No meu modo de ver os ingredientes mais ricos que temos são os naturais, são nossas frutas, nossos vegetais e falando de Brasil especificamente arroz e feijão é a combinação mais rica e exuberante tanto em proteínas, quanto em sabor, textura, somos muito abençoados por ter na base da nossa alimentação essa rica combinação.

Hoje você dá cursos de culinária vegana pelo Brasil, né?

Eu dou sim cursos, mas meu foco principal hoje está em Retiros. Depois desse primeiro retiro que contei para vocês que eu nem era vegana ainda, eu fiz muitos outros, sempre convidada a comandar a cozinha de retiros espirituais. Mas sempre que eu estou na cozinha percebo um movimento forte dos participantes do retiro curiosos sobre a comida, intrigados por tantos sabores e que vem até mim perguntar como foi possível fazer aquela explosão de sabores sem usar ingredientes de origem animal. Foi por isso depois de 5 anos comandando a cozinha de outros retiros que me veio a idéia de fazer meu próprio retiro!

O retiro acontece com muitas vivências, temos aula prática de cozinha, mão na massa mesmo, cada participante será presenteada com um kit de facas para que ao voltar pra casa se sinta pronta para assumir o comando de sua cozinha. A primeira vivência será já um jantar às cegas, as participantes serão convidadas a se vendar e receberão um menu degustração de 6 tempos da Chef Drica, com pratos que marcaram a minha história e me conduziram para esse menu e esse momento, será um jantar meditativo, guiado por uma amiga, convidando as participantes a sentirem como esse alimento adentra o espaço sagrado do seu corpo.

Drica fazendo o que ela mais gosta: servir deliciosos pratos veganos. Crédito: arquivo pessoal

Quais as próximas datas do curso e onde será?

Feriado de 21/04, será uma imersão de 4 dias na natureza de 20 a 23/04 viveremos experiências únicas no paladar e no coração. Vai acontecer em um lugar muito especial para mim, uma praia paradisíaca e deserta em Santa Catarina, se chama Itapirubá, o local do retiro se chama Oka Mauna, uma casa em formato circular com acomodação para 12 pessoas.

Nesse primeiro retiro seremos somente mulheres, 12 mulheres potência descobrindo a beleza de serem quem são e a força que temos ao darmos nossas mãos. 

Já pensou em quantas mulheres não têm direito a exercerem suas escolhas? Muitas mulheres têm no seu prato a sua única escolha no dia. Assim, que tal começar tirando a opressão do prato? Quem sabe ao tirar do prato isso se reverbere em outras áreas da vida, esse é o convite.

Eu uso basicamente a minha conta do instagram @dricavelar para me comunicar com o público e dizer quais são os próximos eventos. A ideia é multiplicar esse primeiro retiro junto com a minha viagem, seguir fazendo retiros pelos cantos do Brasil por onde passo e assim vou me conectando com o público e cumprindo minha missão nessa vida!

O que tem de mais bonito na vida vegana?

Ao meu modo de ver, o veganismo me conecta com Deus! Me conecta com a força do Divino que habita em todos nós, comer vegano traz uma leveza para a vida, a certeza de que meu corpo está limpo de crueldade e assim eu me torno menos agressiva, menos impulsiva, mais feliz, mais certa de que somos todos um só, de que não existe soberania da raça humana, e isso me faz sentir pertencente à natureza. 

E sabe que os animais e a natureza sentem isso? Eu encontro diversos animais pelo meu caminho, cobras, lagartos, gambás, mosquitos e eu nunca sou atacada por eles, até os mosquitos, te juro, quando eu não era vegana me “entupia” de repelentes, hoje em dia me sinto harmonizada até com os mosquitos! Tem coisa mais bonita nessa vida do que se sentir pertencente a algo? Me emociono ao pensar nessa conexão.

PREPARADO PARA ASSUMIR O COMPROMISSO VEGANUARY?

Veganuary é o maior movimento pelo veganismo no mundo, inspirando pessoas a experimentar o veganismo em janeiro e pelo resto do ano

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